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Foto do escritorAna Luiza de Figueiredo Souza

Um estilo que desencaixa(va)

Atualizado: 26 de dez. de 2021

Qualquer leitor que se alimente de algumas pilhas de livro por ano logo percebe que seus rascunhos no caderno não estão exatamente à altura dos (e das) grandes mestres. Mas também nota quando a escrita ganha corpo, timbre e se aproxima do que se pode chamar de estilo. Direto, charmoso, humorado, poético, dinâmico, meigo, ácido. Cada qual tem o seu.


O que geralmente se explica é que esse estilo de escrita mantém certa coerência ao

longo da vida de quem o assina. Por mais que o sentido das obras seja diferente, seria possível reconhecer alguns elementos comuns ao arranjo de palavras do Fulaninho ou da Beltrana em cada uma delas. Boa parte dos escritores não costuma sair de determinado eixo, uma temática ou abordagem que configure o território em que se encontram mais adaptados, inspirados até.


Difícil avaliar até que ponto me encaixo nisso, já que meu estilo, por preferência, é o

desencaixe. Gosto dos desajustes, rompem o previsível. Fluidez que dispensa o encadeamento de frases curtas, inversões que dão ritmo, lúdico demais para o realismo e com fatias realistas na ludicidade.


Meu estilo de escrita se atenta à potência contida nas pequenas situações cotidianas,

usa a fantasia ou a secura ou a ironia ou o humor ou a metáfora para trazê-la à tona. Não se adequa plenamente em nenhuma corrente ou fórmula. Autores e obras, garanto que meu alinhamento com eles é um tanto enviesado.


O bom de variar abordagens é que nunca se sabe como os leitores vão reagir. Já teve

gente que chorou, que morreu de rir, que achou uma fofura, que sofreu crise existencial. O próprio leitor é pego no susto. A expectativa de reencontrar um texto delicado é suspensa diante do encontro com um texto sujo, retorcido. E quem leu o texto roto se surpreende ao conhecer cenários brincalhões, personagens afáveis.


Em vez de moldar as palavras para uma escrita mais conveniente, achei mais honesto

prosseguir na suave esquisitice redigida pela mistura entre técnica e sentimento. Essa escrita que, por não se encaixar inteira em outras mãos, posso considerar só minha.


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