O contato recorrente com as as tecnologias digitais gera consequências variadas. Uma delas é que a rotina parental tem cada vez maior presença de dispositivos que permitem fotografar, filmar e postar conteúdo sobre os filhos. A facilidade de compartilhamento desse tipo de registro faz com que centenas de milhares de imagens e vídeos de crianças e jovens circulem diariamente, por diferentes suportes.
É nesse contexto que se populariza o que tem sido chamado de sharenting, neologismo formado pela junção dos termos em inglês “share” (compartilhar) e “parenting” (cuidado parental). Trata-se da exposição excessiva do/a(s) filho/a(s) por parte dos pais, especialmente em plataformas digitais.
Apesar de, muitas vezes, ser reflexo de um cotidiano digitalmente mediado, feita por motivações afetivas, a prática vem sendo alvo de discussões sérias por parte de especialistas em desenvolvimento infantojuvenil, pesquisadores, advogados, psicólogos, pais, professores, ativistas, entre outros grupos.
Por um lado, a exposição constante às telas durante os momentos em família pode fazer com que as interações entre pais e filhos sejam comprometidas. Situações íntimas acabam transmitidas para dezenas de pessoas, o que interfere na própria educação das crianças e jovens, bem como na relação deles com o olhar e a figura do outro. Além, claro, do impacto físico que o uso prolongado dessas tecnologias acarreta.
Por outro lado, casos de abuso, exploração e negligência parentais ocasionados ou potencializados pelo sharenting acenderam o debate sobre os riscos que a prática apresenta para crianças e jovens diretamente envolvidos por ela. Também existe o entendimento de que pode ferir seus direitos à privacidade, à intimidade e à imagem.
Podemos pensar que, no fundo, esse é um problema causado pela ausência ou carência de educação midiática. A maioria das pessoas não compreende como as plataformas em que postam conteúdo pessoal funcionam. Até porque esse funcionamento não é transparente. Essa falta de entendimento faz com que sequer saibam dos efeitos a que estão expostas ao usá-las, nem reflitam muito sobre suas potenciais consequências.
Pesquisas na área de Comunicação, sobretudo aquelas relacionadas à cultura digital (e ao letramento digital), se mostram importantes ferramentas tanto para criar maior consciência sobre o uso das tecnologias digitais quanto para reivindicar medidas que tornem os ambientais on-line mais seguros e justos. O que inclui maior responsabilização e fiscalização das empresas que gerenciam tais plataformas.
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