Resultados, parte 2: O que ser mulher inspira vocĂȘ a fazer?
- Ana Luiza de Figueiredo Souza
- 18 de mar. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 26 de dez. de 2021
Na semana do dia 8 de março, integrando o MĂȘs Internacional das Mulheres, fiz duas enquetes nas minhas mĂdias sociais (que vocĂȘs podem conferir nos links aqui em cima).
Foi uma semana em que usei a cĂąmera do celular para dar voz a uma sĂ©rie de apontamentos que, hĂĄ anos, venho desenvolvendo sobre a vivĂȘncia feminina. Reparos, experiĂȘncias e reflexĂ”es que achei que era hora de dividir. A quantidade de respostas recebidas, de mulheres tĂŁo diferentes entre si, revela o quanto essas temĂĄticas nos tocam e nos mobilizam. Agradeço a cada uma que compartilhou suas experiĂȘncias ao longo desse processo por mensagens privadas e/ou comentĂĄrios nas postagens. Foi muito bonito tecermos, juntas, essa rede de relatos.
Entre elementos comuns nas lutas que travamos todos os dias enquanto mulheres, encontrei variaçÔes de pontos de vista, outras paisagens, novos questionamentos. Diante dessa riqueza de narrativas e das possibilidades que elas constroem, divido aqui o resultado das enquetes em versão mais extensa.
Espero, por meio dessa dupla de artigos, ampliar o debate multiplataforma que o experimento proporcionou, alĂ©m de permitir que tanto as mulheres que participaram das enquetes quanto o pĂșblico que as acompanhou (ou venha a descobri-las) possam ter acesso a uma anĂĄlise mais elaborada desse material.
A primeira parte dos resultados, relativa Ă primeira enquete, foi apresenta em artigo anterior. VocĂȘ pode acessĂĄ-lo aqui. Continue, agora, com a parte dois, referente Ă segunda enquete.
Breves esclarecimentos: algumas respostas tiveram interferĂȘncia minha ao interagir com elas. Aqui, aparecem em texto corrido, sem inserir o que comentei. O compilado a seguir Ă© representativo das respostas recebidas, mas, por questĂ”es de objetividade, nĂŁo traz cada uma das respostas compartilhadas.
Compilado de respostas Ă pergunta âO que ser mulher inspira vocĂȘ a fazer?â
âTudo que quisermos! Somos capazes de tudo e ainda mais!â.
âCriar redes, uniĂ”es, nos fortalecermos juntas! Isso pra mim Ă© uma coisa bĂĄsica do Ser mulher: uma puxa a outraâ.
âAcredito que ser mulher me faz querer lutar pelas causas femininas, e tambĂ©m me torna empĂĄtica com outras bandeiras. Sei como Ă© estar num lugar desprivilegiadoâ.
âMe inspira a ser exemplo para as meninas com quem convivo (sou mĂŁe e professora)â.
âSer mulher me inspira a lutar, falar, mudar, buscar ser a melhor versĂŁo de mim mesma todos os dias, me abrir, me expressar, buscar ajuda, plantar carinho, colher amorâ.
âParece que muita gente sabe quem foi um grande pintor, mas nĂŁo sabe nomear uma grande pintora, ou quem foi um grande arquiteto e nĂŁo quem foi uma grande arquiteta. Acho que isso me motiva a questionar isso, no sentido de buscar saber quem foram essas mulheres que se destacaram, mas que nĂŁo alcançaram seu devido reconhecimentoâ.
âSer mulher inspira a, quantas vezes for preciso, lutar pela vida. Ă chorar e sorrir ao mesmo tempo. Me inspira a levantar e seguir todos os dias. Me inspira a ser feliz!â.
âA botar a boca no trombone e falar de tudo aquilo que a gente enfrenta caladaâ.
âSer mulher me inspira ao protagonismo. A querer contar histĂłrias de protagonismo feminino, mas tambĂ©m escrever a minha prĂłpria histĂłria, respeitando meus tempos, minhas linhas e as pĂĄginas em branco, sempre lembrando tudo o que ainda posso lĂĄ preencherâ.
âServir de referĂȘncia e apoio para mais mulheresâ.
âTer minha independĂȘncia financeira, emocional, em todos os sentidos. Ser completa, por mimâ.
âA sensibilidade mais presente em nĂłs me inspira a criar. A coragem, a me jogar. A força, a persistir. Sigo firme lutando pelos meus princĂpios, pela gentileza (que nĂŁo Ă© sĂł "coisa de mulherzinha"), pelos sonhos, pelo amorâ.
âDiscutir temas mais restritos ao "mundo dos homens", por exemplo, esportes, polĂtica, com a minha visĂŁoâ.
âSer mulher me ensina diariamente a perseverar. Correr atrĂĄs das minhas metas, independente do resultado nĂŁo vir rapidamente ou a curto prazo. Persistir, mesmo que a vontade de desistir venha toda horaâ.
âPassar batom. Acho lindo um batom bem passado e discretoâ.
âSer pioneira em diversas ĂĄreas ditas masculinas e inspirar outras mulheresâ.
âViver e lutar pelo meu espaço a cada diaâ.
âSer, me construir e me entender como mulher me inspira a nos admirar por todas as nossas mĂșltiplas lutas, conquistas e potĂȘncias. Me inspira a reconhecer nossa diversidade e, ao mesmo tempo, buscar uniĂŁo e apoio entre nĂłsâ.
âViver e lutar pelo meu espaço a cada diaâ.
âConstruir redes de troca e aprendizado entre diferentes mulheres, uma cuida a outraâ.
âContinuar tentando atĂ© alcançar meus objetivosâ.
âBusco construir meu espaço, para que outras tambĂ©m tenham no futuroâ.
âPensar em um projeto de educação sexual para meninos e meninas de escolas perifĂ©ricas na minha cidade. Debater sobre a possibilidade de nĂŁo ter filhos, mostrar que PODE SER uma escolha. Tentar conscientizar outras mulheres sobre a maternidade compulsĂłriaâ.
âMe inspira a estudar, me qualificar, ser melhor do que qualquer homem na minha ĂĄrea e mostrar que mulheres podem, sim, ocupar qualquer espaçoâ.
âA me expressar como eu quero e pensoâ.
âConhecer o trabalho de outras mulheres, fazer parcerias com elas, inspirar o que fazem. Juntas vamos muito mais longe, Ă© o que eu achoâ.
âA ser eu mesma, com certezaâ.
âLutar!â.
âMe aceitar como sou e ser capaz de aceitar outras mulheres pelo que sĂŁo tambĂ©mâ.
âA celebrar mais mulheresâ.
âQuebrar padrĂ”es e expectativas sobre nosso suposto lugar, sempre que possĂvelâ.
âSer mulher me inspira a conquistar o meu espaço do meu jeito (gentil, cuidadoso)â.
âA seguir e seguir e seguir!â.
Respostas recorrentes
1Âș Conduzir a prĂłpria histĂłria, muitas vezes, com afeto e resiliĂȘncia.
2Âș Persistir naquilo que deseja alcançar.
3Âș Inspirar outras mulheres e construir redes de apoio entre elas.
4Âș Ter destaque profissional, especialmente em ĂĄreas ditas masculinas.
DiscussĂŁo dos resultados
Interessante perceber como a resiliĂȘncia Ă© um fator que se destaca nas respostas recebidas. Muitas vezes, aparece associada a um modo de concretizar objetivos que envolve tanto particularidades da mulher que responde (âdo meu jeitoâ, âcom a minha visĂŁoâ) quanto caracterĂsticas tomadas como majoritariamente femininas (delicadeza, cuidado, âplantar carinhoâ). âSigo firme lutando pelos meus princĂpios, pela gentileza, que nĂŁo Ă© sĂł "coisa de mulherzinha", pelos sonhos, pelo amorâ, diz uma das respondentes. Podemos interpretar que, ao reivindicarem tais atributos nos momentos de agir pelo que desejam ou acreditam, essas mulheres busquem dar novos significados a eles. RetirĂĄ-los de interpretaçÔes pejorativas ou diminutas, validando outras formas de ação que nĂŁo se relacionem Ă conduta tomada como masculina ou prĂłpria de uma esfera pĂșblica patriarcal (agressividade, dominĂąncia, rispidez).
Outro aspecto relevante das respostas Ă© que muitas mulheres partem do princĂpio de que, provavelmente, o que buscam alcançar serĂĄ difĂcil, terĂĄ algum obstĂĄculo. Mas, talvez por estarem acostumadas a lidar com situaçÔes de agressĂŁo e precariedade no cotidiano, parecem encarar esses desafios como parte da jornada. O hĂĄbito de ter que furar bloqueios pode tornar a expectativa de se deparar com eles menos paralisante. FazĂȘ-las âpersistir, mesmo que a vontade de desistir venha toda horaâ. A ideia de repetição desse ciclo fica implĂcita em vĂĄrias respostas. âContinuar tentandoâ âquantas vezes for precisoâ. âSeguir e seguir e seguirâ.
O desejo de ter um desempenho notĂĄvel na esfera do trabalho tambĂ©m marca presença. Podemos pensar atĂ© que ponto isso responde Ă s avaliaçÔes severas e desiguais feitas sobre as atividades realizadas por mulheres. Se a cobrança sobre elas Ă© maior, entĂŁo sua atuação precisa ser melhor. O alto rendimento pode ser entendido como estratĂ©gia para contornarem desigualdades de gĂȘnero no ambiente profissional e, com isso, conseguirem se estabelecer apesar delas, mostrando que âmulheres podem, sim, ocupar qualquer espaçoâ.
Todavia, mais dois motivos foram apontados enquanto justificativa para a meta de se destacar na carreira: inspirar e abrir caminho para outras mulheres. O senso de consideração pelas demais (âuma puxa a outraâ) e a vontade de construir redes de apoio entre elas indica o entendimento de que o espaço que conseguem conquistar repercute nas mulheres em geral, inclusive para que âoutras tambĂ©m tenham [espaço] no futuroâ.
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