Nesses anos de pesquisa, percebi que o fato de uma mulher ter ou não ter filhos, bem como querer ou não querer filhos costuma interferir nas suas relações amorosas.
E aqui me refiro mais especificamente a amor no sentido romântico e sexual, de encontros casuais até casamentos.
Vamos começar pelas mulheres sem filhos. Para aquelas em busca de um relacionamento, não serem mães pode até simplificar o envolvimento inicial. Mas isso muda quando se trata de planos futuros.
Já que a maioria das pessoas quer filhos, sobretudo biológicos, não estão dispostas a manter relacionamentos com quem deseja permanecer sem eles ou apresenta dificuldade para gestar/adotar. Muitas vezes, são encaradas como parceiras indesejáveis, imaturas, egoístas.
Não à toa, relatos de conflitos na relação ou términos motivados pela falta de filhos são bem comuns entre essas mulheres.
Também é comum haver pressão tanto para que a mulher que deseja permanecer sem filhos mude de ideia quanto para que a mulher com dificuldade para gestar/adotar se submeta a vários procedimentos até se tornar mãe.
Ambos os casos podem ser enquadrados como coerção reprodutiva.
Entre aquelas que desejam ou planejam filhos em um futuro próximo ou distante, essa meta passa a orientar muitas das decisões de suas vidas pessoais e profissionais. Afinal, precisam arquitetar como um ou mais filhos vão caber em suas rotinas, relações, orçamentos, moradias.
Outra situação bastante encontrada são mulheres (ainda) sem filhos que são madrastas ou se envolvem com pessoas que já têm filhos.
Agora vamos às mães. Mesmo desejados e planejados, filhos trazem mudanças significativas dentro de um relacionamento, seja ele qual for.
Há mães que relatam que a presença dos filhos fortalece os laços entre o casal, dá mais qualidade à rotina juntos. Outras compartilham problemas que passaram a ocorrer ou foram intensificados por causa da parentalidade. E existem mães que contam que a chegada dos filhos gerou uma série de mudanças que tornaram a relação insustentável.
Também prevalece a ideia de que o bem-estar dos filhos deve ser o maior objetivo das ações maternas. Se ela fica em casa, é para cuidar melhor deles. Se trabalha fora, é para dar melhores condições de vida a eles.
Nessa lógica, a mãe que tenta apimentar seu relacionamento, que procura se envolver romanticamente ou que reclama da relação corre o risco de ser considerada fútil, irresponsável, ingrata. Pensamento tão equivocado quanto injusto.
Mães em busca de algum tipo de relacionamento ou envolvimento amoroso denunciam o preconceito que sofrem na esfera afetiva por já terem filhos.
Muitas pessoas evitam se relacionar com elas e até as descrevem de forma pejorativa. Quando se relacionam, não é raro serem insensíveis a questões envolvidas na maternagem dos filhos delas.
Por causa disso, e até pela segurança desses filhos, existem muitas (muitas mesmo) mães solo, separadas ou divorciadas há anos sem um flerte, um beijo na nuca, uma conchinha, um chamego.
O que é perverso nessas práticas é que a ameaça de solidão é usada para convencer e pressionar muitas mulheres a terem filhos. As que resistem a isso ou aquelas que não conseguem se tornar mães muitas vezes se veem ou sentem sozinhas por esse motivo. Por outro lado, as mães não raramente se encontram sós no que se refere à esfera afetivossexual. Nisso, os filhos são colocados como compensações para essa solidão, como se a presença deles bastasse para suprir qualquer carência romântica ou sexual que essa mulher possa ter.
Você vê a (não) maternidade afetando a vida afetiva das mulheres ao seu redor?
E como ela afeta a sua vida amorosa?
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Gostou desse artigo? Acompanhe o Nota de rodapé para mais discussões.
Confira aqui o post sobre os impactos da (não) maternidade na vida afetiva das mulheres em formato compacto.
Essa e outras temáticas são melhor exploradas no livro “Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais e na tese de doutorado.
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