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Foto do escritorAna Luiza de Figueiredo Souza

Você já percebeu que a Barbie rompe com a maternidade compulsória?


Como pesquisadora de temáticas maternas, aproveito o lançamento de Barbie: o filme para trazer essa questão, que abordo em artigo científico ainda no prelo.


Em 1959, idealizada pela cofundadora da Mattel Ruth Marianna Handler, Barbie foi um marco na indústria de brinquedos. Isso porque, até aquela época, as bonecas criadas para meninas representavam ou bebês ou crianças mais novas do que o público-alvo.


O lançamento foi até considerado tabu. O público adulto, usado nos primeiros testes da boneca, achava que enviaria mensagens equivocadas às meninas que brincassem com uma boneca de figura adulta, produzida, estilizada. Além disso, o próprio quadro executivo da Mattel questionava: que outro interesse uma menina poderia ter senão brincar de mamãe?


Mas o público infantil abraçou a novidade, provando que havia espaço para produtos mais diversos oferecidos às garotas. O sucesso da boneca ainda rompeu com outras expectativas sociais. Em uma época na qual meninas do público-alvo da Barbie eram ensinadas a assumir a função de donas de casa para marido e filhos, ter uma boneca cujos interesses não abrangiam o cotidiano doméstico era inovador.


Com o avanço das reivindicações feministas na década de 60 e suas críticas às Barbies emperiquitadas, a marca se reposicionou de modo a retratar sua protagonista em diferentes profissões. Algo que acompanhava, inclusive, movimentações internacionais. Se, em 1963, Valentina Tereshkova foi a primeira mulher a viajar para o espaço, sozinha, a bordo da nave Vostok 6 da União Soviética, em 1965 era lançada a primeira edição da Barbie astronauta.

E aqui chegamos a um importante diferencial da Barbie, que influenciou demais linhas de bonecas dali para frente. Ela nunca foi mãe. Quando aparece com crianças, é na profissão de babá, pediatra, professora.


Ao longo das décadas, o foco da Barbie não era seu relacionamento amoroso com o Ken, o sonho de ter filhos muito menos o horizonte familiar. A boneca é icônica por seu estilo, pelas diversas profissões que encarna e, mais recentemente, pela representatividade de seus modelos (de diferentes raças, larguras, alturas, tipos de cabelo, com deficiências físicas e intelectuais).

A boneca tem forte viés identitário e de ocupação, sendo que sua identidade não está relacionada nem ao namorado nem a algum papel familiar, inclusive o de mãe. Barbie se sustenta no imaginário coletivo e na cultura pop de maneira independente. Os personagens desenvolvidos anos depois para complementar seu universo não condicionam sua presença ou existência à deles.


Com qual frequência vemos personagens femininas que de fato não acabam diretamente ligadas a seus pares românticos, filhos, pais? Cujas narrativas fazem total sentido sem a presença desses outros personagens?


Aliás, uma curiosidade que nem todo mundo conhece: Barbie é o diminutivo de Barbara. No caso, Barbara Handler, filha de Ruth Handler, a criadora da boneca. A empresária também foi mãe de Ken e Skipper, cujos nomes posteriormente batizaram o namorado e a primeira irmã do ícone da indústria de brinquedos.


A cofundadora da Mattel teve a ideia para a icônica boneca ao ver a filha mais velha brincando com bonecas de papel como se fossem personagens adultas, em vez de bebês ou crianças. O apelido de "mãe da Barbie" guarda um gracejo com a história por trás da boneca. Então também podemos pensar que, a partir da sua criação, Ruth imaginava possibilidades mais amplas para o futuro de sua(s) filha(s).


Antes que alguém aponte que mães podem ser profissionalmente realizadas e se vestirem com estilo, digo que concordo, claro. Vejo isso ao meu redor desde pequena. Mas também não é empolgante, para variar, ter uma personagem feminina que simplesmente não se preocupa em preencher esse papel?


A Barbie rompe com a maternidade compulsória ao ancorar a personagem em ambições e valores que não constituem os principais pilares da ideologia maternalista, isto é, a premissa de que todas as mulheres nasceram para ser mães e precisam perseguir esse objetivo com amor zeloso inato.


Portanto, o que a Barbie construiu e segue construindo é digno de nota.


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Gostou desse artigo? Acompanhe o Nota de rodapé para publicações semelhantes.


Confira aqui o post sobre a ruptura da Barbie com a maternidade compulsória em formato compacto. E veja aqui o artigo científico que aprofunda essa relação.


Temáticas relacionadas ao debate aqui trazido são melhor exploradas no livro “Ser mãe é f*d@!”: mulheres, (não) maternidade e mídias sociais.



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